04
Out 08

 

Neste preciso momento em algum local do mundo, é dia e o sol brilha com toda a sua magnificência…
         Neste preciso momento em algum local do mundo alguém adormece no preciso momento em que alguém acaba de acordar…
         Neste preciso momento em algum local do mundo alguém contempla as formas irreverentes das nuvens, alguém passeia à beira mar, sentindo nos pés a rugosidade da areia, com as ondas a desmaiarem nos pés…
         Neste preciso momento em algum local do mundo, alguém solta ao vento as suas mágoas, alguém se confessa ás estrelas…
Neste preciso momento em algum local do mundo alguém chora e alguém ri, alguém sofre exposto aos horrores da guerra, enquanto outros se acomodam a mais um despreocupado dia de paz…
         Neste preciso momento em algum local do mundo, alguém nasce e alguém morre, alguém vive despreocupadamente no meio da riqueza, enquanto outros procuram uma migalha que os alimente…
         Neste preciso momento em algum local do mundo alguém tilinta de frio, enquanto outros deixam o agasalho esquecido num qualquer armário com pó…
         Neste preciso momento em algum local do mundo, alguém se apaixona, alguém sente o aconchego de um abraço apertado, enquanto outros sofrem com a dor da perca e alguém…
         Neste preciso momento em algum local do mundo, alguém observa o luar, alguém chora junto ao mar….
         Neste preciso momento em algum local do mundo alguém passeia por uma sossegada floresta verdejante, enquanto outros se atropelam em corrias, numa qualquer metrópole apressada…
         Neste preciso momento em algum local do mundo, chove torrencialmente, enquanto num sítio distante está um sol escaldante…
         Neste preciso momento em algum local do mundo alguém está rodeado de amigos, enquanto outros sentem o peso da solidão…
         Neste preciso momento em algum local do mundo alguém canta, alguém dança, enquanto outros se vêem expostos ás amarguras da vida…
         Neste preciso momento em algum local do mundo estás tu que me és destinado, tu que eu nem sequer sem quem és…Talvez um dia nos encontremos, até lá, vou te procurando em cada linha, enquanto te perco em cada letra…
 

11
Set 08

 

 

Bem este texto não é da minha autoria, mas numa das minhas pesquisas pelo mundo virtual encontrei-o e achei realmente piada, realmente exitem pessoas com imenso talento!

Aqui vai...  

 
 
 
 
Redacção feita por uma aluna de Letras (Fernanda Braga  da Cruz) que obteve a vitória num concursointerno promovido pelo professor da cadeira de Gramática Portuguesa.


 

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador.
Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. O artigo, era bem definido, feminino, singular. Ela era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal. Era ingénua, silábica, um pouco átona, um pouco ao contrário dele, que era um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos.
O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem ouvir. E sem perder a oportunidade, começou a insinuar-se, a perguntar, conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse pequeno índice.
De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro.
Óptimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar alguns sinónimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeçou a movimentar-se. Só que em vez de descer, sobe e pára exactamente no andar do substantivo.
Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela no seu aposento.
Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, suave e relaxante. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela.
Ficaram a conversar, sentados num vocativo, quando ele recomeçou a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi usando o seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo.
Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo directo.
Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente. Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples, passaria entre os dois.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula.
Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estava totalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois géneros.
Ela, totalmente voz passiva. Ele, completamente voz activa. Entre beijos, carícias, parónimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais.
Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do objecto, tomava a iniciativa. Estavam assim, na posição de primeira e segunda pessoas do singular.
Ela era um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.
Nisto a porta abriu-se repentinamente.
Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo e entrou logo a dar conjunções e adjectivos aos dois, os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.
Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tónica, ou melhor, subtónica, o verbo auxiliar logo diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade de se tornar particípio na história. Os dois olharam-se; e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo o edifício.
Que loucura, meu Deus!
Aquilo não era nem comparativo. Era um superlativo absoluto. Foi-se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado aos seus objectos. Foi-se chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e propondo claramente uma mesóclise-a-trois.
Só que, as condições eram estas:
Enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria no gerúndio do substantivo e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.
O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depois dessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história. Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, atirou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

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